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Sandra Afonso

Escritora

Filmes ou Séries de TV

Será necessariamente um melhor do que o outro?

Nos últimos anos, e televisão tem vindo a crescer exponencialmente, constituindo uma possível ameaça em relação ao cinema. Todos ou praticamente todos nós, já nos deparámos com aquela derradeira pergunta no meio de uma conversa sobre cinema e televisão: ”Preferes ver filmes ou séries de TV?”.

Pessoalmente, eu nunca soube muito bem que resposta dar a esta maldita pergunta. Se me tivessem questionado acerca de tal há alguns meses, época em que vira ou começara a ver maravilhas da televisão como Breaking Bad, The Walking Dead ou A Guerra dos Tronos, provavelmente teria optado pela televisão. Mas para uma rapariga com tempo excessivo para gastar e ansiedades para combater, que nestas férias de Natal se dedicou a ver filmes, tanto os clássicos que nunca vira, mas sobre os quais ouvira falar nas suas aulas na Universidade, como o clássico de terror de 1960, intitulado Psycho, até aos filmes recentemente nomeados para os Óscares, como por exemplo Chama-me Pelo Teu Nome ou A Forma da Água, entre muitos outros, agora, nestas condições, a palavra “televisão” já não sairia abruptamente por entre os meus lábios, tal como a palavra “cinema” também não o faria.

Ao invés, sugeriria um casamento entre ambos. Aconselharia todas e quaisquer pessoas que me perguntassem de qual gosto mais, para que dessem uma oportunidade e se entretecem e maravilhassem com as duas formas de arte.

                No entanto, haverá sempre pessoas que preferem um ou o outro, pessoas para as quais as séries televisivas nunca serão tão grandiosas quanto os filmes, e vice-versa. Vejamos, então, algumas das razões apontadas, para ambas as partes, tanto cinema como a televisão, e que resultam nesta divergência de opiniões.

 

Argumentos a Favor das Séries de TV e Contra-Argumentos

               

            Um dos argumentos mais utilizados pelas pessoas que preferem a televisão ao cinema, é o facto de os filmes serem demasiado longos e, por conseguinte, demasiado fastiosos ou tediosos para ver de uma assentada. No entanto, muitas destas mesmas pessoas são capazes de ver temporadas inteiras de uma série num dia, assistindo a mais do que um episódio de quarenta e cinco minutos ou mais, de forma contínua, o que pode constituir a duração que um filme teria ou até mais. Talvez tudo não passe, afinal, de uma questão de gosto pessoal.

                Ainda assim, existem outras críticas apontadas ao cinema, como por exemplo a que ritmo a história em questão é contada. Muitos afirmam que na sua grande maioria, os filmes não apresentam um bom ritmo e um bom desenvolvimento da sua história, pois nesse aspecto são demasiado curtos, e isto leva-nos a outro argumento utilizado a favor das séries televisivas, que é a transformação e desenvolvimento das próprias personagens envolvias na história. Um exemplo com o qual me deparei foi com a personagem de Walter White da série televisiva Breaking Bad, o qual, para os conhecedores da série é evidente, sofre uma transformação drástica na sua vida e mais importante ainda, na sua personalidade, transformando-se numa pessoa completamente diferente ao longo de toda a série, a um ritmo que não poderia acontecer de igual forma num filme.

               Apesar de corroborar e concordar com este exemplo, não sinto que os filmes não possam retratar o desenvolvimento de um personagem com igual mestria. De forma diferente, sim, pois o ritmo de um filme e de uma série nunca poderá ser o mesmo, mas é possível demonstrar transformações em personagens num filme, se tal for realizado com igual eficácia. Ainda dentro deste mesmo âmbito, outra crítica apontada aos filmes é a dificuldade em criar uma ligação com um personagem a longo prazo. Numa série televisiva, é fácil afeiçoarmo-nos a uma determinada ou determinadas personagens ao longo da história, mas penso que o mesmo pode suceder igualmente num bom filme.

Talvez essa ou essas personagens não nos acompanhem durante meses ou anos, e sim apenas algumas horas, mas falando por experiência própria, é possível ficar com algo de determinadas personagens num filme. As suas histórias, as suas lutas, as que venceram e também as que perderam, as suas palavras, tudo isto é possível ficar connosco, ficar na nossa mente, muito depois do filme ter acabado, e lembrarmo-nos daquela personagem tão bem quanto nos lembramos de uma personagem de uma série que acompanhámos durante anos.

                Por fim, a última crítica que apresento a favor da televisão é a seguinte: numa série, os seus produtores e argumentistas podem experimentar diversos métodos e formas diferentes para contar a sua história, pois um episódio em específico não determina todo o percurso de uma série. Ao longo de várias temporadas, se for esse o caso, é possível experimentar e se necessário, mudar e melhorar algum aspecto que não resulte tão bem, coisa que os produtores de filmes não se podem dar ao luxo de fazer.   

 

Argumentos a Favor dos Filmes e Contra-Argumentos

 

                Para as pessoas que preferem o cinema à televisão, uma das razões dessa escolha é o facto de gostarem de brevidade, disfrutarem de um filme com princípio, meio e fim de uma assentada e quando se deparam com uma série televisiva com um número razoável de temporadas, e com outro grande número de episódios dentro de cada uma dessas temporadas, perdem o entusiasmo para assistir a todas aquelas horas, ainda que a história ou tema sejam do seu interesse. É claro, tudo isto converge, mais uma vez, numa questão de gosto pessoal, pois apesar do número de temporadas e episódios, existem séries que valem e muito o nosso tempo.

                Uma outra crítica também muitas vezes apontada às séries de TV é o tempo durante o qual, estas são exibidas. É verdade que as séries se podem prolongar muito para além do que deviam, arruinando, na sua grande maioria das vezes, o ritmo e a história em si. Infelizmente, isto já se sucedeu diversas vezes e continua a suceder, e um dos maiores exemplos deste problema na actualidade, por mais que me custe dizê-lo, pois sou uma grande fã, é a série The Walking Dead.

                  Na minha humilde opinião, as primeiras temporadas foram maravilhosamente bem conseguidas, as personagens, as suas relações e os seus problemas eram interessantes e intensos, o aspecto de sobrevivência num mundo apocalíptico da forma como foi explorado, deixava-nos presos à história, a desejar por mais.

                  Mas estas últimas temporadas, tenho-as sentido mais forçadas, a enrolar as personagens e a história, e honestamente, isto vindo de uma fã, espero que a série chegue a uma conclusão em breve antes de ficar completamente arruinada, pois isso seria uma desgraça para uma série com tanto potencial e qualidade. Ainda assim, não são só as séries de TV que podem enrolar as suas histórias. Quantas séries de filmes conhecemos nós que já deveriam ter acabado há três filmes atrás? Não vou indicar nomes, mas quase todos nós somos capazes de dar um exemplo deste mal que tanto afecta séries como filmes.

                  A conclusão que vos deixo para este conflito entre televisão e cinema é a seguinte: temos mesmo que escolher ou uma ou outra? Não podemos apenas admitir que na era em que vivemos, estamos a experienciar e a testemunhar uma grandiosidade em ambas as formas de arte?

          Não podemos simplesmente ter um experiência enriquecedora com ambas se estas forem bem conseguidas, algo possível de acontecer nas duas realidades como tentei afirmar com os argumentos apresentados, e também se soubermos procurar o que ver, tanto entre o bacanal de filmes, como de séries que temos à nossa disposição actualmente, dependendo, claro, do gosto pessoal de cada um.

25 de Fevereiro de 2018.

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