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Mafalda Infante

Estudante Universitária e Activista

Roma: Uma questão de Direitos Humanos

Donos de um reportório cultural e artístico fascinante, que se expressa através da dança, música, pintura e literatura, a comunidade cigana (roma) voltou a ser apontada pelo Relatório Anual da Amnistia Internacional como principal alvo de discriminação em Portugal.

            Há vários séculos que convivemos com os ciganos e conhecemos alguns aspetos da sua cultura, mas é também há vários séculos que os discriminamos. A verdade é que o historial de discriminação em relação à comunidade cigana na Europa teve início na Idade Média, época em que chegaram ao continente. Esta estereotipação negativa está, tal como referido no âmbito do projeto “Pare, Escute, Olhe”, presente em lendas que percorriam a Europa neste período e que associavam os ciganos à morte de Jesus ou à conotação negativa atribuída às profissões que desempenhavam (ver https://adcmoura.pt/pareescuteolhe/?p=258).

         Apesar de tanto tempo de convivência entre ciganos e não-ciganos, muito é o desconhecimento acerca desta etnia, desconhecimento este acompanhado por visões estereotipadas da mesma.

            Vivemos numa época em que, felizmente e cada vez mais, somos alertados para a importância do respeito pela diferença e da igualdade de direitos e oportunidades para todos, independentemente de qualquer característica que possuamos. No entanto, e concretamente em Portugal, a discriminação em relação à comunidade cigana é gritante, mas parece não ser ouvida.

            Acontece que, para além de vivermos numa sociedade que se começa a preocupar cada vez mais com as desigualdades sofridas pelas minorias, somos também uma sociedade que estabeleceu e tomou como “mais apropriado” um determinado modo de vida (essencialmente sedentário) e valores que são consideravelmente diferentes dos da etnia cigana.

Neste sentido, é essencialmente devido às suas diferenças culturais e aos estereótipos que, tal como referido, lhes associamos há séculos, que os ciganos são o grupo mais discriminado em Portugal e aquele que não tem recebido a atenção devida por parte do poder político e da sociedade em geral, que teima em perpetuar a falta de contacto e consequente falta de conhecimento em relação aos roma.

            A associação que fazemos entre a comunidade cigana e a criminalidade são constantes extrapolações feitas do particular para o geral, essencialmente por parte daqueles que não compreendem que, de qualquer forma, a criminalidade e a delinquência não se resolvem com discriminação e segregação, que conseguem ser, também elas, criminosas.

             É por isso que é tão necessário o despertar da sociedade e de quem pode decidir para a realidade desta etnia que, em Portugal, passa por severas dificuldades no acesso ao ensino, ao trabalho, à habitação e a saneamento.  

            De facto, é incompreensível que, nos dias de hoje, se assista (e assistimos todos, um pouco por todo o país) a uma segregação camuflada de um grupo minoritário (relembremos as habitações atribuídas, em algumas cidades, a membros desta comunidade em zonas isoladas ou o facto de existirem escolas onde a maioria dos alunos são ciganos, porque os que não o são não querem manter em contacto com os restantes).

          A verdade é que falhámos e continuamos a falhar no que toca à integração destas pessoas - seja na atribuição de residência, seja nas escolas, seja no espaço público em geral – o que, ao longo do tempo, tem agravado as suas condições de vida e perpetuado a desigualdade de oportunidades que estas enfrentam.

           Falar nos ciganos e na discriminação que os mesmos sofrem é ainda um tabu em Portugal, pelo que é fulcral que se comece a educar, que se informe e se desmistifique tudo aquilo que a este tema diz respeito – esta é, sem dúvida, uma educação para a cidadania e, acima de tudo, uma educação para os direitos humanos, direitos estes que temos vindo sistematicamente a violar.

25 de Fevereiro de 2018.

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